segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Este texto escrevi em 2006 quando participei pela 1.a vez de uma clínica. Aquela era a 6.a edição e foi em Cambuí-MG. De lá pra cá muita coisa mudou, é verdade, mas algumas infelizmente ainda não. A partir daí me juntei à essa gente (de sanidade questionável) apaixonada por voar de parapente antes de tudo. Claudinho e Tuzim, essa é pra vocês!
 

Os fora da "lei"

Apesar de alguns duvidarem, um dia destes, estava pensando... se Isaac Newton e Santos Dumont fossem contemporâneos acho que eles seriam inimigos mortais. Poxa, Newton quando publicou sua lei não percebeu que estava tornando ainda mais difícil o sonho de um monte de gente (de sanidade questionável) e explicava pra esse povo porque seus sonhos de voar não se realizariam tão facilmente e ainda transformava em lei a maldita mania que seus corpos tinham de ficarem plantados no chão enquanto suas mentes viviam nos ares. Poxa, mas daí nosso Albertinho (que não é o Pardal) teria mostrado pra ele com quantos 14 Bis se faz um sonho. Esse é meu herói...

Se bem que esse negócio de cabeça nas nuvens e pés no chão é culpa de Leonardo da Vinci. Eita cara curioso e metido. Além da maldita mania de ser gênio. Por culpa dele hoje tenho que ver no rodapé dos emails de um monte de amigos (aqueles de sanidade questionável sabe?) aquela maravilhosa frase piegas "Uma vez tendo experimentado voar, caminharás para sempre sobre a Terra de olhos postos no Céu, pois é para lá que tencionas voltar." Poxa Da Vinci, me erra, afinal existe a lei de bom uso da internet que esses malucos estão desrespeitando.

Mas doido mesmo era Ícaro. Também quem tem como pai Dédalo e um bisavô chamado Ares ia ser o que? Depois de uns probleminhas do seu pai com ela... a lei - sempre ela - parece que por conta de um fetiche com vaca, zoofilia, sei lá - deu no que deu: cadeia pra ele e pro pai. Mas, como bons foras da lei que eram, resolveram por em prática um plano infalível parecido com o sonho do nosso Albertinho (que não é o Pardal). Com asas de cera e penas de gaivota ganharam a liberdade, mas Ícaro quis botar na base e se lascou. Também quem mandou desobedecer ao que seu pai falou. E como lá em casa tudo que meu pai falava era lei, concluo que Ícaro morreu por isso também, porque desobedeceu a uma lei (isso tá ficando chato já).

Com tantos problemas com a lei, fui procurar um padre para me confessar. E não é que o lazarento me deixou na mão? Cansado de ser lifteiro em São Vicente (calma Eládio), Bartolomeu resolveu que ia fazer XC. Como o Junior CB ia nascer uns 10 anos depois (ou seriam 20?) pra ensinar ele como mandar ver no XC, o cara resolveu também ser um fora da lei - não dizem que se fosse pro homem voar, Deus lhe tinha dado asas? - Mas Bartolomeu era “top pilot”, não se contentava com permanência e pouso e inventou a tal da "passarola". Por problemas de pronúncia do pessoal de Rodeio (SC) ele resolveu mudar o nome pra balão mesmo, pois ia pegar muito mal na comunidade católica daquela cidadezinha um padre que inventou o tal de "passarrola".

Consta que, anos depois, com o advento do GPS um outro companheiro de batina do Bartolomeu, ali pelos lados do Paraná resolveu que ia quebrar o recorde OLC do padre lifteiro. E ele tinha uma vantagem: já tinha lido tudo sobre rotas, waypoints, parece até que baixava uns voos no site do Durval. “Num belo dia de chuva resolveu partir pro cross, botou na base, afinal “era só uma cebezinha” - vai que dá!!” - gritou um de seus coroinhas. E lá se foi o Bartolomeu do século 21 pro seu XC. Mas as coisas não saíram muito bem, parece que ele teve problemas com o manual de instruções do GPS, inclusive ligou pro atendimento online do fabricante, mas a ligação caiu nos bombeiros que não puderam ajudar muito o cara da batina (ou seria batman). Fiquei pensando na lei que minha vovó sempre escreve na lista de compras: "Passarinho que come pedra, sabe o GPS que tem". Ta aí ela de novo viu?

Também descobri que um japonês chamado Katsumi Sato, da Universidade de Tóquio, publicou na revista científica britânica "New Scientist" uma artigo no qual afirmava que animais com mais de 40 quilos seriam incapazes de bater as asas suficientemente rápido para permanecer no ar. Como eu peso quase 90 quilos, mandei um email pro Sato discordando completamente dele, igual fazem com o André Ramponi. Fiquei aliviado porque o japonês me respondeu que era apenas uma tese e ainda não era lei.

Então eu resolvi parar de pesquisar sobre gente que queria voar e comecei a pesquisar de lei. Fo deu. Descobri que não tinha uma lei pra mim. Ter até tinha, um cara chato de São Paulo com um sobrenome esquisito cismou de querer me explicar os pormenores dela, mas não me convenceu. O que ele me disse não deixava claro seu eu podia ser irresponsável. Afinal eu queria uma lei que me desse o direito de brincar nos ares e ainda levar "alguém" junto comigo. Aqui numa rampa perto de casa antes chamavam esse alguém de "presunto". Pra mim esse apelido tem duplo sentido, mas até que faz sentido pois hoje chamam ele de "aluno".

Mas, voltando à minha lei, ela tem que ter tudo detalhadinho: tem que estar escrito que eu não posso cobrar do presunto, que eu sou obrigado conectar o presunto na selete, que eu não posso decolar sem checar que ele realmente está conectado na selete, que eu sou obrigado a rechecar tudo isso e principalmente tem que estar escrito que eu não posso matar o presunto. Daí o cara chato de sobrenome esquisito lá de SP quis me ajudar de novo. Eu resolvi escutá-lo, mas deixei pra lá, pois acabei descobrindo que para entender disso tudo eu tinha que respeitar mais duas malditas leis - a do bom senso e da vida. Desisti. Afinal eu quero mesmo é uma lei para desrespeitar.

Dr. Condor, instrutor do Zé Galeto

por Luciano Azeitona