O dia começou mostrando o que certamente eram os resquícios da zona de baixa pressão que desde o último domingo deixa pilotos inquietos, e no café da manhã pairava o ceticismo quanto as possibilidades de mais uma prova. E assim continuaram, sem solidariedade alguma com a natureza e rindo de suas escolhas como se ela não gostasse de fazer surpresas. Ao menos, o hotel RealMinas tem sido um bom anfitrião todas as manhãs acolhendo pilotos e o comitê organizador com um café da manhã bem servido.
Chegar à rampa hoje foi mais difícil do que esperávamos. Porções da estrada estavam escorregadias e portanto a subida uma aventura. Alguns pilotos subiram a pé; outros pediam carona à beira da estrada . Dois pilotos, o inglês Guy e o neozelandês Matt contam que estavam a descansar depois de uma longa subida quando um carro modelo gol bem surrado de trabalho e guiado por dois garotos parou para oferecer carona. "Entramos no porta-malas do carro, maior pela falta dos bancos traseiros. O motorista dirigia sempre em primeira marcha num carro com o escapamento danificado e nós, sentados na porta do porta malas do pequeno hatchback de duas portas, disputávamos espaço com três tonéis de leite vazios que chacoalhavam silenciosos subjugados pelo ensurdecedor zunido do carro. Ele parou na sua fazenda e ali conhecemos a família inteira: mais uns quatro filhos homens e uma menina e seu filho de um ano de idade, tudo isso enquanto comíamos doce de leite e queijo, produtos de seu pequeno agronegócio. Saímos dali felizes, bem alimentados e com novos amigos. Recebemos uma carona até a decolagem e de tão impressionados com a amigabilidade da família deixamos uma pequena recompensa financeira pela gentileza inesperada. 'Gaste com as meninas da faculdade, dissemos a ele'".
Chegamos à rampa e víamos nuvens abaixo da decolagem e até alguns pontos de chuva. Apesar disso uma prova de aproximadamente 60km foi escolhida pelo comitê. Ela seguia ao sul aonde a previsão apontava melhores chances de uma prova dinâmica. Decolagens começariam as 14hs sob este céu nublado e ainda com persistentes pontos de chuva. O resgatista veterano e líder de nosso time de apoio veicular Dioclécio Filho até sentenciou o dia com um "sei não viu" sucinto. Já o organizador Charles Silva mostrou-se mais otimista dizendo "daqui a pouco você vai ver, este céu vai abrir". E ele estava certo. Centenas de parapentes sobrevoaram a cidade em formação e partiram.
A prova durou mais ou menos 3 horas e teve pilotos estabelecidos como verdadeiras lendas do esporte ficando para trás mostrando que as condições meteorológicas estavam desafiadoras. Pilotos como o ex-campeão mundial Hans Bollinger e o atual campeão do PWC Aaron Durogati ficaram aquém de seus potenciais na prova de hoje.
Os vencedores do dia respectivamente foram o inglês Russel Ogden, o alemão Pepe Malecki e o suiço e favorito Stefan Wyss. O conterrâneo Frank Brown ficou bem posicionado e esta em 11º na classificação e portanto no bolo dos candidatos ao título. O veterano Stefan Wyss e atleta da Airboysteam.com continua na merecida e justificada liderança, mostrando que "tem braço". Ele disse com a autoridade de um veterano: "voava em direção à um passo de montanha e de um lado avistava vários parapentes circulando uma térmica e do outro vários urubus fazendo o mesmo. Em retrospecto é fácil saber porque escolhi compartilhar a térmica com os urubus. O urubu evoluiu para abandonar uma térmica por uma melhor; o ser humano evoluiu para conservar e utilizar o que tem até o fim." explicou.
Amanhã o dia promete mais. Pilotos chegaram tarde em casa, alguns felizes e outros pensando em como ser melhores. Ao menos foram recebidos por uma previsão meteorológica que promete condições de voo progressivamente melhores para os próximos dias, e pela certeza de uma picanha especial no Espetto presente da organização do evento. Ou seja, o mundial continua o mesmo até agora, e promete ser um dos melhores da história de Governador Valadares.
Resultados completos: pwca.org/results/
por: Leonardo Bassani
